Keywords: Estudos Pós-coloniais; Estudos afro-atlanticos; Atlantico negro; Afroeuropa; Arte cultura e política
Participation: presential
Ao introduzir o número doze da revista de fotografia The Eyes (2022), dedicada às experiências negras na Europa e às identidades “afropeas” – retomando aqui a designação de Johny Pitts (2019), guest curator do número –, já nos primeiros parágrafos, Taous Dahmani convoca o celebre estudo de Paul Gilroy, Black Atlântic: Modernity and Double Consciousness (1993). Estabelece-se, dessa forma, um diálogo, atravessado pelo conceito de diáspora, entre as produções artísticas de africanos e afrodescendentes na Europa contemporânea, e a já consolidada tradição dos estudos afro-atlânticos. Tendo como objeto de investigação e análise uma seleção restrita de obras incluídas no número mencionado da revista The eyes, bem como as fotografias incorporadas no ensaio Roma negata: percorsi postcoloniali nella città (2014), fruto da parceria entre a escritora Igiaba Scego e o fotógrafo Rino Bianchi, a presente comunicação pretende pensar convergências e divergências históricas e contextuais entre as figurações do Atlântico Negro, ou Afro-Atlântico, e as recentes formas de encenar a Europa marcada pela presença africana e afrodescendente, bem como as instâncias e demandas políticas subjacentes a esse amplo corpus. Com esse intuito, convoca-se, tanto parte do riquíssimo acervo artístico e teórico que compôs a exposição Histórias afro-atlânticas, organizada em 2018 pelo Museu de Arte de São Paulo (MASP), em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, tanto as reflexões de Jacques Rancière (2005/2012) em torno dos “paradoxos da arte política” e do papel da arte na construção de um comum compartilhável. A partir das figurações e das encenações do Atlântico negro e da Afroeuropa, tentar-se-á interrogar a insurgência de formas extranacionais de pertencimento e de oposição política capazes de corroer os paradigmas coloniais ainda persistentes na contemporaneidade global.
CARNEIRO, Amanda, MESQUITA, André, PEDROSA, Adriano (Orgs.).
Histórias afro- atlânticas: [vol 2] antologia. São Paulo: MASP,
2018.
GILROY, Paul. Black Atlântic: Modernity and Double Consciousnes.
London: Verso, 1993. PITTS, Johny. Afropean. Notes from Black
Europe. London: Penguin Books, 2019.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política.
São Paulo: EXO, 2005. RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado.
São Paulo: Martins Fontes, 2012.
Luca Fazzini é Professor Colaborador do Programa de Pós-graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP), onde também desenvolve pesquisas de pós-doutorado, financiadas pela FAPESP. Possui Graduação em Literaturas Modernas pela Università degli Studi di Siena (Itália), Facoltà di Lettere e Filosofia (2012), Mestrado em Estudos Comparatistas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2014), sob a orientação da Prof.a Inocência Mata. É doutor (2019) em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde desenvolveu pesquisas sobre as representações da cidade na literatura e na cultura contemporânea em Angola, Brasil, Cabo Verde e Portugal, com a orientação das Prof.as Eneida Leal Cunha e Inocência Mata. É autor de Versões do Horror: Guerra e Testemunho no Romance Português e Italiano Contemporâneo (Lisboa, Ed. Colibri), e de diversos outros ensaios e artigos científicos na área das Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, Literatura Portuguesa Contemporânea, Estudos Comparatistas e Pós-coloniais. Nas suas investigações, aborda questões relativas às representações da violência e do trauma em literatura; literatura e experiência urbana; relações entre estética e política na literatura e na arte contemporânea. Integra o Grupo de Pesquisa CITCOM – Citizenship, Critical Cosmopolitanism, Modernity/ies, (Post)Colonialism, do Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa (CECOmparatistas – UL).