Narrativas em paralaxe como estratégias contra hegemônicas

Lilian Cristina Monteiro França


Keywords: webdocumentário; narrativas em paralaxe; contra-hegemonia; cinema; pensamento deocolonial

Participation: on-line

Na última década as produções audiovisuais vêm merecendo notável incremento a partir dos novos paradigmas tecnológicos, marcados pela ampliação da velocidade de conexão, otimização da compactação de arquivos, design fluido e dinâmico adaptável a diferentes dispositivos, desenvolvimento de softwares (Korsakow, HTML5, Klynt, RacontR) e hardwares (wearebles – óculos Rift, exoesqueletos, luvas e sensores) interativos, expandem a relação entre produtores e interatores. O formato dos webdocumentários, particularmente em sua segunda década de desenvolvimento (2012-2021), apresenta características capazes de ir além da lógica tradicional de produção de sentido, organizada, quase sempre, por uma estrutura linear e que traduz o ponto de vista de um grupo. Segundo Penafria (2013, p. 150): “[...] o certo é que as tecnologias são um elemento fundamental para se afirmarem, renovarem e concretizarem diversas estéticas e diferentes modos de representação”, trabalhando a fundo com a própria dimensão dos documentários, veículos que, por quase um século, foram responsáveis por narrar como padrão de verdade diversas histórias trazidas por colonizadores. O próprio conceito de narrativa vai se complexificando, passando pelos estudos de Aristóteles, Propp, Barthes, Jakobson, Lacan, Foucault e, mais recentemente, Derrida e Guatarri, Bolter, Fidler e Jenkins, no viés de uma escrita colaborativa e co-criadora. Para Oliver Crou (2009) o webdocumentário consiste numa nova possibilidade de apreender a realidade, possibilitando, dessa forma, a instauração de diálogos críticos e contra hegemônicos. Tal viés alinha-se, de certa forma, ao pensamento pós-colonial, como aquele formulado por Mbembe (2001), quando destaca, referindo-se à África, que “Wheter in everyday discourse or in ostensibly scholary narratives, the continente is the very figure of ‘the strange’”, melhor dizendo, a ideia do outro como o estranho. Após a análise de 109 webdocumentários produzidos entre 2002 e 2021, observou-se a utilização de estruturas narrativas aqui denominadas “narrativas em paralaxe”, capazes de, ao nosso ver, atuar como prática contra hegemônica, inserindo-se no âmbito do pensamento pós-colonial ou, ainda, nos marcos do pensamento decolonial (QUIJANO, 2000). Foram identificados, a partir da análise dos webdocumentários, quatro tipos de narrativas em paralaxe: 1.Narrativa em paralaxe granular; 2.Narrativa em paralaxe sinérgica; 3.Narrativa em paralaxe multiforme e, 4. Narrativa em paralaxe imersiva, a partir das quais foram examinadas as possibilidades de utilização da linguagem contra hegemônica nesse suporte audiovisual, abrindo espaço para dar voz ao “subalterno” (SPIVAK, 2010).


References


Crou, Olivier. (2009). Le webdocumentaire, une nouvelle opportunité d'appréhender le monde. In: ESIEE, Paris.
França, Lilian Cristina Monteiro. (2020). Webdocumentários e Narrativas em paralaxe. Aracaju-SE: Editora Criação.
Mbembe, Achille. (2001). On the postcolony. Berkeley-CA: University of California Press.
Penafria, Manuela. (2013). “Webdocumentário – Interatividade, Abordagem e Navegação”. In: Fidalgo, Manuel e Canavilhas, João. Comunicação Digital – 10 Anos de Investigação. Lisboa, Portugal, Editora Minerva/Labcom.
Quijano, Aníbal (2000). Coloniality of Power, Eurocentrism, and Latin America. Views from South: 544.
Spivak, G. C. (2010). Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG.


Bio


Lilian Cristina Monteiro França - Doutora em Comunicação e Semiótica – PUCSP – Tese: “Matemática e Arte– Aproximações histórico-epistemológicas”; Pós-Doutora em História da Arte – UNICAMP – Pesquisa sobre Arte Eletrônica no Brasil; Coordenadora do Projeto Internacional CAPES-ICCTI – Realizou missões de trabalho na UNL, UBI e UMINHO (onde ministrou a disciplina Tópicos Avançados em Audiovisual); Professora Titular da Universidade Federal de Sergipe –UFS - Atuou na implantação dos cursos de Comunicação e de Cinema e Audiovisual e dos Mestrados em Letras (PPGL), Comunicação (PPGCOM) e Interdisciplinar em Cinema - PPGCINE. Pró-Reitora de Graduação da UFS (Dean of Graduate Studies) – Atuou na otimização da oferta de disciplinas dos cursos de graduação, na interiorização da Universidade, implantação de sistemas de inclusão para portadores de necessidades especiais e introdução de recursos tecnológicos como ferramentas para as aulas presenciais.


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